Gibson e Fender: um pouco da Historia
GIBSON
Fundada por Orville Gibson, em 1890, na cidade de Nashville, Estados Unidos da América, esta companhia dominou sempre o mercado, tanto no ponto de vista tecnológico como no da qualidade e da perfeição estética dos seus produtos.
Desde 1920 que a Gibson teve dois homens-chave à frente desta empresa, sendo eles Lloyd Loar, nos anos 20, e Theodore McCarthy, nos anos 50. Estes souberam transmitir e manter um espírito particular na construção das guitarras. A partir de 1963 faltou esta visão e os instrumentos fabricados passaram a serem bem diferentes aos olhos dos apaixonados pela marca, podendo-se dizer que, a partir de 1969, a Gibson praticamente deixou de existir.
A marca produziu modelos importantes para o mercado: as L5 (1924) e a ES-150 (1935). Esta última foi a primeira guitarra eléctrica a ser comercializada no mercado americano.
Desde a ES-150, a Gibson dedicou-se às semi-acústicas, colocando de lado as acústicas. Assim, a Gibson Super 400, de 1951, e a ES 175, de 1956, atingiram o topo em relação às semi-acústicas, pois são detentoras de uma beleza inquestionável. Para provar isso, a segunda trata-se da guitarra de jazz mais conhecida em todo o mundo.
Após estas guitarras, e para dar uma continuação às guitarras semi-acústicas vocacionadas para jazz, a Gibson produziu, entre outras, as ES-335, ES-345 e a ES-355. basicamente são idênticas, apenas com alterações no hardware.
Gibson ES-355
Entretanto, em 1952 apareceu a Gibson Les Paul, dando início a uma história rebuscada e rica de sucesso. Começou pelo modelo Standard (1952) e Custom (1954), sendo a vez da Junior (1955) e a Special (1958). A partir de 1958, a Standard passou a ter 2 pickups humbuckers e a Custom 3 humbuckers.
Em finais dos anos 50, numa tentativa de renovarem a imagem da casa, introduziram novos modelos de guitarras. Em 1957 e 1958, a Gibson lança os modelos Flying V e X-plorer, respectivamente. São modelos virados para uma música diferente que se começava a ouvir na altura, na linha do alternativo. Música diferente, guitarras diferentes e arrojadas.
Em 1961, a Gibson terminou a produção da Les Paul, iniciando um novo modelo, a SG (Solid Guitar), obtendo alguns resultados positivos. Esta guitarra iria colocar a marca a par dos tempos, tentando revolucionar com o seu formato diferente. Contudo, a guitarra não tinha novidades nenhumas tecnológicas. Continuando a produzir a SG, retomaram a lendária Les Paul, introduzindo cores novas e modelos ligeiramente diferentes. De destacar a Les Paul Robot, da qual já abordei no artigo anterior.
Assim, em 1963, a Gibson tenta roubar clientes à Fender com a nova Gibson Firebird. Em termos de cor são parecidas, com a tradicional sunburst e o som limpo e agudo. O modelo foi fabricado também para melhorar a Les Paul, mas na fase inicial não obtiveram grande sucesso, pois o modelo Les Paul não se substitui...
A marca sempre foi reconhecida, primeiro pela qualidade, e segundo pelos preços elevados. Assim, para chegarem a um mercado de preços mais modestos, a Gibson possui outras marcas, onde garantem uma relação qualidade/preço que tem vindo a aumentar consideravelmente. A marca possui a Epiphone, a Kramer e a Valley Arts, entre outras.
Conhecer e gostar da Gibson é algo que não se consegue explicar, mas a explicação reside em sensações que se vão acumulando ano após ano, depois de se ter examinado cada instrumento e, sobretudo, tocado, falando, ouvindo e estando em contacto com pessoas que já foram contagiadas pelo ‘bicho da Gibson’! As Gibson são objectos tão especiais que qualquer exemplar produzido pela marca ultrapassa a simples natureza do instrumento musical para assumir a de obra de arte.
FENDER
A importância desta marca na história da guitarra eléctrica está patente quando falei a semana passada sobre os modelos Telecaster e Stratocaster.
Clarence Leonidas Fender (Leo Fender) fundou esta casa nos anos 30 do século XX. Os guitarristas sabiam que Leo fabricava guitarras e pediam ajuda para aumentarem o som das suas guitarras nas actuações ao vivo. Os sons dos metais (música country) e do público abafavam completamente o som das guitarras. O peso e o volume delas também eram problemas... Em 1946, debruçou-se de forma séria sobre estas questões. Fabricou alguns protótipos, cedendo-os a vários guitarristas, para que estes pudessem experimentar in loco. Assim, em 1948, nasce uma guitarra que hoje é de culto: a Telecaster (começou por se chamar Broadcaster, mas o nome foi mudado).
Fender Telecaster
Em 1954, nasce uma outra guitarra lendária: a Stratocaster. Por mais anos que a marca dure e por mais modelos que produza, jamais irá ultrapassar a perfeição e a mística deste modelo. A estética é perfeita, desde a caixa de aspecto nada tradicional, com os seus 2 cornos assimétricos, até à forma do resguardo e da cabeça, passando pela disposição dos 3 pickups single-coils; os botões e o selector de pickups estão perto da mão direita para se poder manusear com relativa facilidade a meio de um solo; o resguardo já mencionado, esconde toda a parte eléctrica, podendo ser revista com muita facilidade; entrada para o jack, oblíqua e rebaixada na madeira; o processo de synchronized tremolo (este último não foi inventado, mas muito melhorado). Todos estas particularidades conferem-lhe uma elevada personalidade.
Fender Stratocaster
Com introdução de novas madeiras, descobriu-se que cada madeira possuía uma sonoridade diferente. Assim, muitos guitarristas faziam colecção de Stratocasters: Jimi Hendrix tinha uma colecção invejável delas; David Gilmour possui bastantes na sua colecção, inclusivé uma das primeiras Strats a serem feitas...; Eric Johnson colecciona-as cuja data seja inferior aos anos 80; Eric Clapton é detentor de mais de 100...
Os entendidos dizem que 1964 foi o último ano dos bons instrumentos da marca, pois em 1965, a CBS adquiriu a Fender. Esperava-se, pois, que desta união resultasse bons instrumentos, mas verificou-se exactamente o oposto. Surgiram poucos modelos novos, dando origem a um redondo fracasso. Há várias teorias e algumas conculsões para esta queda: talvez Leo Fender tivesse descansado sobre os louros dos modelos de grande sucesso; talvez tivesse feito melhor em arranjar melhores projectistas e técnicos, pois os que a casa tinha modificaram os modelos principais da marca, piorando-os.
Mas a CBS foi positiva em relação ao aumento notável do número de exemplares construidos todos os anos. A marca também se aventurou na comercialização de acessórios e amplificadores.
Numa tentativa de chegar ao mercado económico, a marca criou 4 novos modelos. Em 1956, apareceram a Duosonic e a Musicmaster. A Mustang (1964) e a Bronco (1969) são praticamente iguais, sendo diferente apenas nos pickups.
Fender Duosonic e Musicmaster
Fender Mustang e Bronco
Fender jaguar
Entre 1970 e 1973, foi um período de modificações de toda a gama da Telecaster, mas apenas ao nível de hardware, sem alterarem a estética original.
O ano de 1975 está associado ao pior erro da Fender, ao produzir a Starcaster, uma guitarra semi-acústica produzida para combater as semi-acústicas da Gibson. A guitarra nunca teve sucesso, apesar de ter havido alguns músicos de topo que a tivessem usado (a Fender ter-lhes-à pago?). A guitarra foi produzida entre 1976 a 1977 e depois entre 1980 a 1982. Fender Starcaster
Para tentar remediar a situação, a Fender lançou dois novos modelos: a Lead I e a Lead II, obtendo um sucesso relativo. Mais tarde apareceu a Lead III.
Fender Lead I, II e III
A Fender é uma marca que ficou marcada pelas 2 grandes criações: a Telecaster e a Stratocaster. Houve várias apostas na tentativa de introduzir novas guitarras para tentarem não ficarem conhecidos apenas por aqueles dois modelos, mas sem sucesso. Teria sido bem melhor se tivessem apostado apenas nesses dois modelos, para além dos dois baixos notáveis (Jazz Bass e o Precision Bass), do que terem tentado renovar a gama existente.
Nestes últimos anos, numa tentativa de baixar os custos de produção, a Fender deslocou as suas fábricas para outros países, mantendo a produção nos Estados Unidos. As guitarras do Japão foram bem vistas, mas as fabricadas na China e no México nunca foram bem aceites. Não sei o que diga, pois a Fender tem uma marca e uma imagem a defender. Não podem produzir uma Stratocaster de má qualidade. Decerto que não terão a mesma qualidade das americanas, mas são guitarras bastante boas.
A Fender é uma marca de topo. Marca de eleição, motivo de orgulho, sempre foi vista como uma marca distinta: havia guitarras e havia a Fender. Hoje em dia é um verdadeiro culto ter pelo menos uma guitarra desta marca. Os coleccionadores devoram leilões e rondam quem possua uma Fender antiga para as adquirir. Uma colecção cara que só alguns podem realizar.